terça-feira, abril 29, 2014

Simples

 
A vida tem uma capacidade nada delicada de nos dar verdadeiras lições. Por mais que ignoremos alguns sinais ou silenciamos algumas vozes internas, o momento sempre chega.
A mudança é inevitável. O medo não pode cegar, nem a insegurança tornar-se dominante. Na verdade, é preciso ter muita força para seguir em frente, mesmo quando a mão não tateia os próximos metros do caminho.
Às vezes, inclusive, é melhor calar a insistência das esperanças e fomentar novos sonhos. Abrir espaços. Destampar ao invés de tentar prender. Suportar as oscilações, enfrentar as incertezas e, então, ao seu tempo, moldar sua própria afirmação.
Dominar as artimanhas do desespero. Dormir com a desilusão e acordar vacinado. Olhar para trás, e superar. Reconhecer o chamado da mudança e deixar para trás o que não tem mais sentido, independente do seu valor.
Continuar apesar de tudo. Não por orgulho, nem desapreço ou por indiferença. Por nada. O único motivo para ir é não ficar. A redenção do basta.
Por entre os altos e baixos existem silêncios nada doces de serem experimentados. Manifestos de impotência, verdades tristes. Quando a dor parece ser insuportável, a vida faz questão de nos provar que temos uma força infinita. Podemos nos encarar até o final, mas seremos nós que apagaremos a luz.
Do convívio com a dor nasce o forte. Com a fragilidade que comove o que parecia ser invencível. A superação que reverte a descrença com a sabedoria que só o tempo sabe ensinar.
Podemos não saber o que a vida nos trará amanhã, é sempre uma surpresa. Podemos também não saber como lidar com tantas coisas de ontem, é sempre um desafio.
Podemos tudo, inclusive, renovar.
Deixar novos motivos tirarem os sorrisos para dançar; permitir que a curiosidade suspeite de novos ares; reaprender que, entre um tchau e o novo, há um momento bem-vindo à releitura do que é a felicidade.
 
Jacqueline Moraes

segunda-feira, abril 28, 2014

Cappuccino


Sobre os lençóis,
estava o nosso amor.
As folhas caiam lá fora,
 o Outono chegou.

Na sintonia de nossa alma,
o respeito e a admiração,
Te encontrei.

Cappuccino em uma noite fria,
em seus lábios melados,
te deixei meu abraço
você se aconchego.

Em meu peito,
não é apenas atração
Te encontrei.


Jacqueline Moraes

Comida Francesa

Entradas (Entrées)
 
     1. Saucisson
 

    2. Jambon de Bayonne


   3. Pâté de foie


   4. Foie Gras


   5. Huitres


    6. Coquille Saint Jacques



Plats


Desserts


Boulangerie / Pâtisserie
 
Dicas do meu amigo Pierre Malafosse.

Na estrada

Vou te contar o que acontece comigo quando olho para um mapa: vejo histórias sem fronteiras.
Enxergo sorrisos, revejo amigos e lembro-me de paisagens que pude tocar. Imagino como a vida anda naquela esquina ou se aquele mágico ainda está naquela fonte, brincando de encantar vidas.
Vejo países e encontro-me com pessoas em minha memória. Aquela voz; o sotaque. O calor do abraço que o tempo não apaga. O som inconfundível daquele sorriso, naquela situação. Quase me senti lá, de novo.
Olho para meu mochilão e escuto seu chamado. Sim, eu também quero passear. Também me sinto empoeirado e não aguento mais ficar murcho, neste canto de mundo. Esta parede gelada, este armário pra lá de imponente.
Um segredo? Aqui também não é meu lugar.
Aliás, antes o cansaço de uma viagem ao desconforto de uma rotina vazia.
Penso neste imenso globo azul e invejo sua constante rotação. Tenho ciúmes. Igualmente gostaria de ver o Sol de diferentes pontos. Voltar a ser regido por movimentos imprevistos: estar por aí!
Quando um vento me descobre por alguma janela, a vontade é de perguntar-lhe por onde andou. “Como vai o lado de lá?”. Saudades de um tempo em que era leve o suficiente para poder pedir uma carona.
Saudades de ter tudo o que preciso dentro de uma mochila e ainda sentir ter mais espaço para ser preenchido que qualquer casa de vastos metros quadrados. Cheio de vida, vazio de críticas. Encantadoramente entusiasmado.
Viver sob o regime do não saber: o lugar do almoço, a comida do prato, a companhia por perto.
“Que horas são mesmo?”, perguntar por perguntar. A incerteza é o maior estímulo para a vontade de se abrir. Oferecer boas vindas às infinitas possibilidades.
Ser grato de verdade. Pedir informações e agradecer de coração. Sentir-se presente, em meio ao momento único de construção da própria história.
Quando viajo por aí, não sei, teimo em me perguntar por que adiei tanto essa decisão. A vida ordinária me oferece dezenas de âncoras. Não está certo sentir-se leve apenas quando não está pesado. A leveza não é necessariamente um oposto ao peso. A leveza é um estado de elevação.
Quanto fica para trás! A verdadeira experiência tira mais que fotos. Saca, também, espaços. Reorganiza sentimentos e redesenha outros tantos contornos – externos e internos.
Quando converso com a estrada, me perco. Escuto, observo, aprendo. E, no fim, onde quer que chegue, renovo minha certeza que viajar é a melhor maneira de reinventar-se.

Jacqueline Moraes

domingo, abril 27, 2014

Experiencia de um Intercambista

 
Somos bons perdedores.
Reconhecidamente gratos, aliás. Nunca saberíamos disso sem viver o que vivemos. Cada único momento. A experiência desafiadora de sair de casa. Ou mais – a libertadora sensação de sentir a casa sair de nós.
Medos, voláteis, pouco a pouco se esvaziaram. O aeroporto, a partida, a ilusão de estar só. Como é bom não saber que aquele olhar meio perdido pela janela do avião é a última versão inédita de nós mesmos. Jamais retorna o mesmo que vai.
Ao contrário do que geralmente aprendemos, chegar é, apenas, o primeiro passo. Um campo aberto de possibilidades se inicia a partir de então. É como ter a oportunidade de reconstruir parte da história de sua vida, de forma consciente. Novos círculos familiares, novos grandes amigos, novas descobertas e habilidades.
O intercambista não descarta nada.
Tudo que se vive significa um aprendizado ou experiência. Viver fora é um processo contínuo de absorção. Todas as pessoas importam, assim como qualquer caminho contribui. Além de todas as observações, não há conversa que se jogue fora.
Aprendem-se línguas, hábitos e, inclusive, novas formas de aprender. A sensação única de surpreender-se consigo. Passar a entender que você é capaz de ir além do que antes acreditava. Superar-se e ser superado. O respeito às diferenças é o ponto chave da convivência construtiva.
Perder, no entanto, é o maior dos aprendizados. Quando perdem-se barreiras, ganha-se o horizonte. Somos bons perdedores porque entendemos que a circunstância da perda é uma cláusula condicional dos momentos inesquecíveis.
O que passamos a chamar de casa, não tarda, fica para trás. Os remotos desconhecidos que se tornam melhores amigos, a distância, um dia, os separa. O intercâmbio é um período de conquistas e perdas diárias. Intensidade e esvaziamento. Liberdade e desapego.
O momento da volta é uma grande lição. Quando a sensação parece ser de deixar para trás tudo aquilo que se conquistou, voltar em paz significa entender que nada daquilo realmente te pertenceu. Pelo contrário, foi você quem se entregou à vida.
Viver uma experiência é melhor que tê-la: isso é saber perder.
 
Jacqueline Moraes

sábado, abril 26, 2014

Sentidos

 
Istambul estava mais fria que as previsões da minha imaginação. Até então, era o lugar mais longe que estava de casa.
Era confortado por uma coragem que só os jovens têm. Ao menos, era isso que me parecia ao olhar por entre o reflexo de suas imparciais janelas. Uma vontade inexplicável de querer conhecer e sentir-se destemido. Nenhuma barreira freia, embora assuste, o desejo de seguir.
Caminhei pelas ruas relaxadamente atento. Buscava, ao máximo, retirar julgamentos do meu olhar. Só queria conhecer. Ver, estar.
Passo a passo, aproximei-me de costumes distantes. Mesmo que voltasse, já não voltaria igual. A culinária, as histórias, o cheiro daquela cidade. Sentia uma espécie de curiosidade, tacanha em seus quereres, receosa em seu pisar.
Istambul não me parece Europa. Também não Ásia. Pelo menos não como eu achava que era. Istambul está mais para Istambul mesmo. Seu próprio mundo, universo e alquimias.
Nenhuma foto poderia dizer o que é aquela cidade. Ela soa incompleta sem seus sons. Ruídos do nada, barulho de tudo. Inaudível à própria coerência do silêncio. Os carros de todas as direções, as pessoas e suas rezas, o caminhar das multidões, as ruas e seus animais.
Uma cidade tecida e amarrada por movimentos. Mesmo quando há uma pausa no olhar, no instante poético de cada segundo, vultos trêmulos convidam a curiosidade da alma à crer que a vida é apenas o que se move.
 
Jacqueline Moraes

sexta-feira, abril 25, 2014

A troco de nada

 
De um caderno um tanto manso, inéditos escritos de um velho não tão longe assim, uma lição atemporal que nem mesmos todos séculos poderiam explicar:
 “Um vento cai melhor que uma palavra. Não me venha com essa de solidão. Vivo um momento de preguiça social. Uma espécie de necessidade involuntária de passar mais tempo comigo.
A troco de nada.
Na verdade, não tem origem em nenhum motivo que possa ser consertado por alguém. Nem ninguém. Não há qualquer ligação com mágoas ou relações arranhadas. A razão é positiva, viva, positivista!
Cercar-me de desconhecidos me impossibilita de me conhecer melhor. Conhecidos também não têm ajudado. Fazem-me perguntas que nem mesmo eu sei dizer. Aliás, são como aromas que sigo dentro de mim.
Como o calor da pele caçada, não há deserto que perdoe quem fique parado. A maior penitência da imobilidade é desinteressar os olhos. Partir para a mudança é romper com a realidade presente.
Ausentar-se, portanto.
Minha falta de instrução religiosa, por outro lado, me deixa em dúvida se preguiça social é igualmente um pecado. Ou se pecado mesmo é fazer da vida um ato sem graça. No entanto, ensina melhor meu espírito quando pede silêncio e deixa a própria verdade falar.
A distância rega a vida das relações. Traz à superfície o crescimento, permite ao tempo assinar sua obra. A preguiça, mesmo, não é de viver. É apenas da vontade de estar. Há no isolamento uma vívida intensidade, uma energia permissivamente egoísta, que só entendem os vulcões.”
 
Jacqueline Moraes

quinta-feira, abril 24, 2014

I just love it!

Gosto de escrever. Sempre gostei.
Incorporo à minha escrita uma forma pessoal e inédita de me manifestar. Expresso, à minha maneira, construções de pensamentos, ideias e – quem escreve, sabe – desafogo porções e mais porções de nós que entopem minha mente diariamente.
Enxergo na escrita minha forma de arte. Meu jeito de deixar uma tatuagem no mundo. Não necessariamente um trabalho, mas uma esfera que busco desenvolver. Acredito que todos deveriam dedicar parte de sua vida a uma forma artística.
Entendo como “arte” qualquer forma de expressão que se origina da mais pura pessoalidade. Alguns o fazem como carreira, outros como hobby. Mas, sem dúvidas, a arte precisa ter seu espaço, assim como se concilia a profissão, a espiritualidade, vida social, esportes etc.
Sou, como muitos, uma admiradora da linguagem. Juntar palavras não só é minha maneira de expressar o que penso, como se tornou um caminho para manifestar o que sinto.
Gosto de escrever porque é infinito. Palavras assumem significados, que mudam e alcançam diferentes pontos de interpretação. A arte vai além da precisão dos nossos sentidos; o sentimento a altera, o momento a modifica, o contexto interage.
Gosto de escrever porque a escrita flutua. Ela não é uma obra pronta, com um significado preso em si. Ela alcança em cada um diferentes interpretações, adquire em cada momento sua própria versão. Varia junto ao tempo, às experiências e às identificações.
Gosto de escrever porque crio, apago, decido por vírgulas ou ponto final. Opto por novos parágrafos ou mais travessões. Dou vida, forma e sentido a uma própria expressão de mim. E melhor – que pode encontrar em outros uma nova tradução.
Assim sigo escrevendo. Sem especializações ou gêneros, apenas me permito manifestar. Deixo para cada momento sua própria forma de inspiração, forma e conteúdo.
Encorajo a quem estiver disposto a me ouvir que realize suas próprias publicações pessoais. Escritos, desenhos, fotografias, músicas, seja o que for. Tudo que nós exteriorizamos leva consigo parte de nossa essência – do que somos, sentimos, pensamos e do que temos a oferecer de diferente.
A arte que nasce em mim, toma forma em si, e ganha vida em ti. Toda contribuição artística pressupõe o mesmo valor: nutrir a vida – de muitos, de um ou em si.

Valores


Um dia eu decidi viajar e nunca mais voltei.
Não devido ao desafio ou querer ficar; mas simplesmente porque eu mudei .
Atravessei fronteiras que eu nunca pensei que eu iria. Nem no mapa , nem na vida . Eu fui tão longe que olhar para trás não foi sequer confortando mais , foi motivador.
Eu conheci pessoas que eu posso chamar os professores e ganharam conhecimento de que nenhum livro conseguiu me ensinar . Não porque era um segredo, mas porque nunca foi escrito.
No dicionário da minha vida, eu adicionei novos significados para a educação, o medo e respeito.
Eu reaprendi o valor de alguns gestos . Como quando você é uma criança , a espontaneidade dos sorrisos e expressões impõe a forma mais universal de comunicação que existe - a linguagem da alma.
Eu estava protegida por diferentes pessoas, famílias , estranhos , bancos e parques. Entre pisos e seres humanos, ambos capazes de ser tão frio ou de marfin .
Eu já passei por ruas, estações , aeroportos e tenho orgulho de dizer que eu acho difícil relembrar todos os seus nomes. Minha memória compartilha meu desejo para refrescar-se com novos e antigos aventuras.
Fiz amigos de verdade . As amizades que você faz na estrada não desaparecem no espaço ou no tempo. Amigos que confrontam as grandes distâncias e desafiar os longos anos . Estas são as amizades que perduram através de verões e invernos devido à certeza de novos encontros .
Eu vivia além da minha própria imaginação. Eu quebrei expectativas e riqueza intangível acumulado. Eu permiti que meu corpo e alma para tentar outros estados da vida e da consciência.
Eu redescobri o que realmente me fascina. Eu senti arrepios intensos e deu espaço para o meu coração a bater mais rápido do que a minha rotina diária jamais iria permitir .
E você sabe o quê?
Comecei a entender um significado diferente do que é para perder alguma coisa. Assim como nós somos , às vezes, pode ser dura . Mas eu prometo a você que eu posso ser mais que isso. Na verdade , pode ser algo bonito.
Sabendo disso, eu reavaliava alguns dos meus abraços, do respeito de algumas das palavras que eu falei e eu me apaixonei ainda mais com os meus amigos e familiares.
No entanto, eu ainda tenho muito a aprender .
Se qualquer coisa, todas essas experiências conduzir a certeza de apenas uma coisa - eu ainda tenho um monte de lugares para conhecer, as pessoas cruzam com e conhecimento para descobrir .
Um dia eu decidi viajar ...
e foi a partir desse momento que eu percebi que qualquer viagem é só apenas de ida.

Jacqueline Moraes

Cupido


Ultimo Verão

 
Até então, era o mais distante que eu havia estado de casa. A sensação era poderosa. Reforçava uma espécie de necessidade de ir além. Estar longe era como me alongar: fazia sentir-me maior, relaxada e íntimo ao prazer.
Muito sedutor dominar o desconforto. Sentir-se bem em ser absolutamente estrangeira. Talvez a segurança em ser tão desprendido exista na falsa esperança de que todas as raízes permanecem intactas, em casa.
Quando a distância age, no entanto, a própria vida muda os caminhos. Ou os caminhos mudam a vida, pouco importa. A volta, de tão longe, se transforma em uma nova ida. O tempo, o afastamento e as experiências são um convite irreversível à mudança.
Viajar remodela compreensões. Existe a distância que se mede e aquela que se sente. Existe um tempo para nada e um tempo para tudo. Existem algumas verdades que parecem até mentira.
Geralmente, consequente ao retorno, manifesta-se um sentimento inconveniente. A maior distância do mundo experimenta-se, curiosamente, dentro da própria casa. O lugar que era para ser o mais seguro, passa a se tornar desconfortável. Todo o desconsolo de ser estranho em seu próprio ninho.
Como não caber mais.
A sensação é igualmente poderosa. Contudo, oprime. Todo o aprendizado obtido começa a fazer sentido. Lembranças voltam com força. O conhecimento parece ter vida. Por ser vivo, escapa ao controle. Neste momento, fugir passa, então, a ser uma motivação a viajar.
A ideia de partir para se encontrar é tão atraente quanto romântica. Uma cláusula condicional à satisfação plena. Sempre lá, sempre longe. Estar fora para se sentir inteiro. Eis o martírio de muitos que viajam.
Até que, nem mesmo a viagem pode responder algumas perguntas. O prazer é sempre indescritível. Porém, é preciso algo mais.
Um bom viajante também vai para dentro. Ouve seu espírito. Desafia-se a entender que não é o lugar que lhe traz a sensação de liberdade. Compreende o propósito do ir e a interação do estar. Em si,  com resto.
A boa viagem, em realidade, está no encontro da alma com o destino.
 
Jacqueline Moraes

First Time

 
A primeira vez que saí para viajar, sequer imaginei o passo que estava dando. Para mim, parecia um processo ditado por previsões. A mala era pensada a partir das roupas já decididas para cada dia e ocasião. Os dias eram resumidos a roteiros, com rigidez de horário e passeios programados. Sem esquecer do aval, até mesmo, da previsão do tempo.
Se alguém me falasse da magia, não chegaria nem perto de acreditar. Sensações não gostam mesmo de palavras. Sequer desconfiava que a distância era o impulso da liberdade.
Descobri os prazeres de viajar, apenas, quando refletidos em mim. Um latente enriquecimento baseado num encontro de vidas – especialmente daquelas que, se não fosse a viagem, nunca se cruzariam.
Com o tempo, ele mesmo me convenceu a trocar a mala por um mochilão. Aonde ir se tornou mais importante que saber onde ficar. O destino cedeu espaço para o trajeto. O caminho reinventou a linguagem dos significados, além da condição de existência entre dois pontos.
Passei a prestar mais atenção nas pessoas que nas estátuas. Foi quando aprendi a me envolver, de fato, com a importância de uma história. Meus critérios de avaliação passaram a considerar mais os sorrisos que as estrelas de fachada.
Assim, entre famílias e hotéis, preferi tornar-me hóspede por convite.
Viajar sozinho, definitivamente, foi a melhor maneira de descobrir que o melhor parceiro de viagem encontra-se dentro de si. Além da própria evolução, há momentos de pausa e silêncio, herdeiros da verdadeira liberdade.
Quando só, o horário e o destino deixam de pertencer ao consenso. O compromisso segue marcado com o acaso. Segundo o manual dos viajantes, a correnteza prevalece quando não há bordas nem mãos para segurar. Isso, também, me contou uma nuvem.
Uma mochila nas costas, somado a um lugar desconhecido, parece aguçar a sensibilidade. É como se houvesse mais poesia no olhar. O viajante resgata a beleza que a rotina enxuga. Como a chuva que, mediante seu aroma, embeleza o tempo livre das tardes.
Viajar é perceber a sutileza do que tem tudo para passar despercebido.
Quando não há ninguém para conversar, aliás, aprende-se a falar com o silêncio. Na prosa dos pensamentos ou na inspiração das reflexões, torna-se possível descobrir o caminho da própria paz.
Viajar é um constante movimento – por essência, bastante controverso – que se equilibra no colo da pausa. Pequenas ou grandes, a realidade se faz presente. Pelo concreto ou nos seios do abstrato, o dueto do agora. Entre todos os caminhos e as escolhas feitas, experiências e aprendizados são tão subjetivos como idas e vindas. No meio tempo de qualquer momento, com a permissão do fuso, viajar é a chance de nascer de novo.
 
Jacqueline Moraes

Souvenir

 
Para quem viaja, é muito comum deparar-se com a questão “como é o povo tal?” ou “como as pessoas agem em determinado país?”.
Infelizmente, é normal ouvir respostas sobre essas perguntas. Há quem use a experiência de ter estado em um lugar para singularizar comportamentos e atitudes.
Reduzir um país, uma cultura e suas pessoas a uma experiência é tão grave equívoco quanto acreditar que o hino representa a totalidade de suas histórias. A generalização possui o mesmo gene do preconceito. Falsas verdades são criadas pela irresponsabilidade de visões reduzidas a categorizações.
Viver uma viagem é exatamente o oposto. É possível livrar-se da cadeia invisível de comportamento coletivo e observar, plenamente, as individualidades em ação – ou reação. A observação, por si, desobstrui as portas que o julgamento teima em fechar.
Sair da rotina, esquecer horários, padrões e etiquetas. Viajar permite negar o óbvio e navegar por entre e além dos estereótipos mais rasos.
Ao compartilhar uma experiência cultural, deveria se prestar o máximo cuidado para não tornar o fato uma verdade, nem doar às opiniões os trajes do indiscutível.
O discurso preguiçoso busca auxílio em jargões. No entanto, é preciso estar ciente que qualquer tradição é egoísta: sua existência depende da insistência em contar as mesmas histórias.
Por mais que a convivência seja, em inúmeras vezes, através de interações com instituições, a essência de qualquer relação está no contato humano.
Países são pessoas. Estados são pessoas. Culturas são pessoas. São elas que importam. Isto é, apesar dos hábitos praticados por grupos, na raiz mais íntima de cada um há a potência inata de fazer existir sua individualidade.
Mesmo com toda semelhança, nenhum entendimento tem poder de verdade.
 
Jacqueline Moraes

terça-feira, abril 22, 2014

Só por hoje

E hoje, só quero sentir seu cheiro e sua pele.
Só por hoje,
primeiro e único dia.
 
A saudade,
aperta meu peito.
          
É como se já tivéssemos,
vivido juntos em outra vida, talvez.
Fico tremula e agitada.
 
Não é normal,
apenar isso.
 
É cedo para dizer,
Je t'aime
Só hoje.
 
Jacqueline Moraes

 

domingo, abril 20, 2014

Coffe

 
Bernardo, um homem diferente dos outros. Cansou-se das pessoas, do superficial e da hipocrisia das pessoas. Não é fácil viver nesse século, tem que ser muito forte.
O suficiente, para aguentar as dores da vida e toda a chicotada das pessoas, de suas palavras e gestos sem valor algum. Ele olhava pela janela de seu condomínio, o qual, tinha-lhe pagar quase seu salario inteiro, por segurança, por conforto, com alguém superficial, que por sua vez, tornou-se a sociedade.
Eu o conheci, num café da  minha livraria preferida, onde eu costumo inclusive, ficar horas e horas vagando pelas pilhas de livros, meu refugio.
Não foi por acaso, quando ouvi seu sotaque, era Italiano. Me pediu ajuda, era novo na cidade. Veio inclusive, em busca de sua espiritualidade. Me contou um pouco de sua historia, quando há 3 meses pegou o primeiro voo para São Paulo, foi um sorteio onde colocou em uma caixa, todos os destino que  ele queria morar e visitar antes de morrer, São Paulo foi a escolhida.

" Meu senhor,
help me nessa nova jornada,
Brasil, oh Brasil!
Terra das palmeiras onde canta o sabiá.
Escutei essa frase, no aeroporto.
Duas meninas, jovens e lindas
recitavam esse poema.
Não entendi muitas palavras,
estou tendo dificuldade com o Português"

Ficamos conversando, por horas e horas.
Eu lhe fiz muitas perguntas, como uma jornalista. Bom, é a minha profissão. Só que, mais do que isso,  suas historias me deixaram curiosa. Perdi a noção do tempo, eu estava apaixonada, pela sua alma.
Confesso, não me apaixono tão fácil. Inclusive, eu tinha me esquecido como era isso. Cavalheiro, gentil, perfumado e seus olhos, ah os seus olhos.

continue...

Jacqueline Moraes

sábado, abril 12, 2014

Polinésia Francesa

Como fica no meio do nada, não é muito fácil chegar à Polinésia Francesa. A opção para quem sai de São Paulo é ir pelo Chile, e fazer uma parada na Ilha de Páscoa. Há também a opção, mais demorada e custosa, de ir pela Europa.

Uma vez chegando lá, tudo é bem organizado. Para quem tem e quer gastar dinheiro, tudo é fácil nas ilhas. Quase todas possuem aeroportos, ligados por vôos diários da Air Tahiti. Há ainda a opção dos "ferryboats" (balsas) ou dos veleiros que fazem cruzeiros pela região.

Com relação à acomodação, há desde a possibilidade de se instalar na casa de nativos até ficar em hotéis que chegam a cobrar US$ 800 por dia, sem café da manhã. É fácil alugar carros, achar telefones e, mais do que tudo, na maioria das ilhas é fácil achar sossego e silêncio.

Nas praias, você com certeza não vai ser importunado. Não há crianças pedindo dinheiro ou camelôs oferecendo quinquilharias ou comida. Também não há perigo de ratos de praia.

Índices de violência simplesmente não existem. Nessa época globalizada, até nesse paraíso isolado é possível assistir a TVs pagas, ver notícias via CNN ou seriados via Sony.

Mas esqueça tudo isso. O maior prazer de qualquer visitante é ficar longe da televisão e poder ver da janela de seu quarto, ou da areia da praia, as cores que enfeitiçaram o pintor Gauguin.
Mias informações sobre o arquipélago, Clique aqui.



quarta-feira, abril 02, 2014

Molestia

E assim continuo
vagando por imprestáveis almas.
Cruas e vazias,
cadê o humanismo?
Ate onde continuaremos,
sendo um fragmento egoísta
e assim, medíocre.

Meus olhos enchem de lágrimas,
quando me vem a palavra " África" na cabeça....
quase um sinônimo socioeconômico 

de  pobreza, da indigência e do desamparo.
Admiro do fundo do meu coração
ricos de espíritos; que são capazes de
enterrar sua vaidade e seus orgulhosos insípido.

Que são absolutamente capazes
de se modificarem a si mesmo e
doar compaixão ao próximo.
Desejo do fundo da minha alma,
ajudar os miseráveis e aos sórdidos.
Não estou dizendo sobre o dinheiro,
mas sobre a verdadeira significância de ser Humano.

Não quero deixar minha essência
ser corrompida pelos pedaços e fragmentos;
da ignorância, da alienação e da ganância.
Isso não se cabe apenas em países desenvolvidos,
inclusive vejo em meu dia a dia exemplos concretos
dessa voracidade e luxúria pela possessão
ao extraordinário "poder" de nosso companheiro.

Gosto de discutir sobre a politica,
e também sobre a formação de interpretes.
Tenho a certeza absoluta que todos já foram
vítimas desse contexto, pelo bem ou pela agressão.
                             
                             Jacqueline Moraes

terça-feira, abril 01, 2014

Como uma singela melodia

Seus olhos se cruzaram com os meus
sem nada planejado,
senti o sinal do Adeus.

Sua voz soava como uma singela melodia
senti a vibração de sua alma,
talvez seja covardia.

Ah, se eu soubesse
Que essa paixão me despertaria,
me mantivesse.

Nossos olhos se cruzaram,
na guerra da civilização
onde o prédios ruinados estiveram.

Não me leva a mal,
Sei que isso não vai passar
Um desejo descontrolado e anormal.

                                                             Jacqueline Moraes